Apesar da elevada heterogeneidade dos lípidos, quer ao nível
das diferentes classes que existem (ácidos gordos, triglicéridos, colesterol, ésteres
de colesterol e fosfolípidos), quer dentro de cada uma dessas classes, há uma
característica comum a todos eles - a sua elevada insolubilidade em água. Na
realidade, apesar de alguns dos lípidos terem um comportamento anfipático
(fosfolípidos e colesterol), são predominantemente apolares. Uma vez que no
nosso organismo é necessário transportar lípidos de um órgão para outro, e o
solvente de todos os nossos fluídos, incluindo o plasma, é a água, temos um
problema potencial… Se os lípidos circulassem na sua forma livre na corrente
sanguínea, iam ter a tendência para se aglomerar em gotas lipídicas (tal como
acontece quando deixamos cair gotas de azeite num copo com água), que iriam, em
última instância, causar a oclusão dos vasos sanguíneos.
É exatamente para evitar esta situação que existem as
lipoproteínas plasmáticas. Como o próprio nome indica, as lipoproteínas são
complexos macromoleculares compostos por lípidos e proteínas e têm a função de
transportar os lípidos (a única exceção são os ácidos gordos!) na corrente
sanguínea mantendo-os num estado parcialmente solúvel. Basicamente a ideia é
que se tratam de estruturas esféricas, com um interior extremamente hidrofóbico
(composto maioritariamente pelos lípidos mais apolares – triglicéridos e
fosfolípidos), e uma superfície polar, de forma a permitir interações com a
água. Sendo assim, à superfície encontram-se os grupos polares dos fosfolípidos
e do colesterol. Desta forma, ao apresentarem a capacidade de interatuar com a
água, as lipoproteínas consegue ficar num estado parcialmente solúvel,
impedindo que os lípidos formem gotas hidrofóbicas para se escudarem do contacto
com a mesma.
Existem várias classes de lipoproteínas, que são agrupadas
de acordo com a sua densidade. Sendo assim, por ordem crescente de densidade
temos as quilomícrons, VLDL, IDL (não é verdadeiramente uma classe de
lipoproteínas), LDL e HDL. Uma vez que os lípidos são menos densos do que aágua, quanto maior for o teor em lípidos de uma lipoproteína, menos será a suadensidade. Quanto ao tamanho das diferentes classes de lipoproteínas, este
varia na razão inversa da densidade, ou seja, as lipoproteínas mais densas são,
simultaneamente, as mais pequenas.
Quanto à parte proteica das lipoproteínas, é composta pelas
chamadas apolipoproteínas, ou apoproteínas. Na bioquímica, o prefixo “apo”
significa “incompleto”, ou “sozinho”. Portanto, o conceito de apoproteína
aplica-se à parte proteica das lipoproteínas, na ausência de lípidos. O nome
das apoproteínas é dado da seguinte forma: prefixo “apo”, letra maiúscula e,
nalguns casos, um número, que pode refletir a ordem da descoberta ou a massa
molecular. Como exemplos temos a apoE, ou a apoB-100. As apoproteínas
desempenham várias funções importantes nas lipoproteínas que serão abordadas
num post futuro…
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