sexta-feira, 17 de março de 2017

Mioglobina

A mioglobina é uma hemoproteína citoplasmática que consiste numa única cadeia polipeptídica de 154 aminoácidos. Expressa unicamente em miócitos cardíacos e fibras musculares esqueléticas oxidativas, a mioglobina foi assim chamada por causa da sua semelhança funcional e estrutural à hemoglobina. Como a hemoglobina, a mioglobina liga-se reversivelmente ao O2 e, assim, pode facilitar o transporte de O2 a partir de glóbulos vermelhos para as mitocôndrias durante períodos de aumento da atividade metabólica ou servir como um reservatório de O2 durante hipoxia ou anoxia.
A estrutura da mioglobina foi delineada pela primeira vez por John Kendrew há mais de 40 anos atrás e trabalhos subsequentes demonstraram que é uma cadeia de polipéptidos que consiste em oito α-hélices. Liga-se ao oxigénio pelo seu resíduo heme, um anel de porfirina: complexo do ião de ferro. A cadeia polipeptídica é dobrada e embala o grupo prostético heme, posicionando-o entre dois resíduos de histidina, His64 e His93. O ião de ferro interage com seis ligantes, quatro dos quais são fornecidos pelos átomos de nitrogénio dos quatro pirrroles e compartilham um plano comum. A cadeia lateral, imidazol da His93, fornece o quinto ligando, estabilizando o grupo heme e deslocando ligeiramente o ião de ferro para fora do plano do heme. A posição do sexto ligando, na desoximioglobina, serve como local de ligação para o O2, bem como para outros ligandos potenciais, tais como o CO ou NO. Quando o O2 se liga, o ião ferro está parcialmente puxado para trás em direção ao plano da porfirina. Embora este deslocamento seja de pouca importância na função da mioglobina monomérica, fornece a base para as mudanças conformacionais que fundamentam as propriedades alostéricas da hemoglobina tetramérica. Além disso, estudos que utilizam a difração de raios-X e técnicas de ligação de xénon identificaram quatro cavidades internas altamente conservadas dentro da molécula de mioglobina que pode servir para concentrar e orientar moléculas para a ligação ao resíduo heme.
Relacionada com o seu papel como um reservatório de O2, a mioglobina funciona também como um tampão de PO2 intracelular (pressão parcial de O2). Semelhante ao papel da creatinafosfoquinase, que funciona para tamponar concentrações de ATP quando atividade muscular aumenta, a mioglobina funciona para tamponar concentrações de O2. Como resultado, a concentração intracelular de O2 mantem-se relativamente constante e homogénea, apesar de aumentos no fluxo de O2 dos capilares para as mitocôndrias, induzidos pela atividade física.

Texto escrito por:
Ana Rita Cardoso
João Faria
Joel Mateus
Pedro Desport
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sexta-feira, 10 de março de 2017

Stress oxidativo e respiração celular

Durante a respiração celular, os eletrões são transferidos do NADH ou do FADH2, ao longo de 4 complexos proteicos existentes na membrana interna mitocondrial, até chegarem à molécula de O2 (podem ler mais sobre o assunto aqui). Na última etapa do processo, os eletrões são transportados um a um, ou seja, vão chegar ao oxigénio um de cada vez.
Esta situação, que pode parecer apenas um detalhe para muitos, tem, na realidade, implicações muito importantes para a nossa bioquímica, pois significa que todas as moléculas de O2 são, ainda que temporariamente, transformadas num radical livre, o anião superóxido. Isto significa que, literalmente, a cada instante estamos a produzir grandes quantidades de espécies reativas de oxigénio. No entanto, esta situação que é potencialmente muito perigosa, não tem, em condições normais, consequências dramáticas para as células, principalmente por 2 motivos:
1. Existem mecanismos que impedem que o anião superóxido se difunda do complexo 4, antes de estar completamente reduzido a água. Ou seja, forma-se o radical livre, mas permanece no local e rapidamente recebe outro eletrão, deixando de ser radical livre.
2. Como existem sempre alguns aniões superóxido que conseguem escapar ao primeiro mecanismo, temos outros mecanismos de defesa, sendo que, neste contexto, o mais importante é a presença de uma enzima mitocondrial designada por superóxido dismutase. Esta enzima, que também apresenta uma isoforma citosólica, vai provocar a dismutação do anião superóxido, convertendo duas dessas moléculas em peróxido de hidrogénio.
Claro que vão existir aniões superóxido que vão conseguir escapar também à superóxido dismutase, mas em condições normais são muito poucos. Além disso, ainda temos várias outras defesas antioxidantes à espera deles…
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