Conforme referi no meu primeiro post sobre as ligações não
covalentes, estas tratam-se de algo essencial na bioquímica!
Por um lado, uma vez que são forças fracas, permitem uma
dinâmica grande das comunicações entre moléculas ou dentro da mesma molécula.
Dito por outras palavras, como são fracas permitem, por exemplo, que duas
moléculas interatuem temporariamente uma com a outra; ou então permitem que
determinada macromolécula adquira temporariamente determinada conformação. Mas
em qualquer um dos casos, se for necessário alterar essa situação, não é
complicado, pois tratam-se de forças fracas… Como exemplos da primeira situação
temos uma interação entre um substrato e o centro ativo de uma enzima (atenção
que nalguns casos o substrato pode interatuar covalentemente com a enzima!),
uma interação entre um recetor e o seu ligando, uma interação entre duas
proteínas, etc. Como exemplos da segunda situação temos alterações
conformacionais de uma enzima induzidas pela ligação de um substrato ou pela
ligação de um modulador alostérico, alterações conformacionais de uma proteína
em resposta a uma alteração de pH (o que acontece, por exemplo, com a
fosfofrutocinase-1 durante a fermentação lática, sendo esse um dos fatores
associados à fadiga muscular…), etc.
Mas não se deixem enganar pela fraqueza individual de cada
uma das interações não covalentes. De facto, como na bioquímica lidamos
frequentemente com moléculas grandes (polissacarídeos, proteínas, ácidos
nucleicos, por exemplo), existem inúmeros locais no interior dessas moléculas
que podem interatuar uns com os outros. Sendo assim, forma-se uma rede de
interações não covalentes que é responsável pela manutenção da estrutura 3D
dessas moléculas. O somatório de todas as forças torna-se enorme, conferindo
uma grande estabilidade às biomoléculas. Por isso é que, por exemplo, uma
proteína adquire um ou poucas conformações possíveis, apesar de virtualmente
existir um número elevadíssimo de conformações que a proteína poderia
apresentar…
Finalmente, existe um aspeto muito importante que está
relacionado com as forças não covalentes que as moléculas podem estabelecer: a
sua solubilidade! Na realidade, muitas vezes quando dissolvemos algo em água
(sal ou açúcar, por exemplo), não pensamos no porquê da dissolução ocorrer. A
ideia é muito simples… Para uma substância se dissolver num determinado
solvente, as moléculas qua a constituem devem ser capazes de interatuar com as
moléculas do solvente, de uma forma energeticamente mais favorável do que o seu
arranjo inicial. Por exemplo, o somatório da rede de interações entre os átomos
de Na+ e Cl- no sal é inferior ao somatório das
interações desses iões com as moléculas de água. Sendo assim, na presença de
água o sal dissolve-se. E o raciocínio é válido para qualquer soluto e/ou
solvente. Por isso se diz a frase “Semelhante dissolve semelhante”, que na
realidade nos diz que a dissolução ocorre quando existe afinidade química entre
moléculas do soluto e do solvente.
Sem comentários:
Enviar um comentário