Esta classe de aminoácidos inclui todos aqueles que
apresentam grupos funcionais não ionizáveis na sua cadeia lateral. Na
realidade, apesar da definição desta classe ser dada desta forma, não está 100%
correta, pois de acordo com a mesma, os aminoácidos aromáticos deveriam estar
incluídos. Portanto, para a definição ser completamente correta, deve conter a
palavra alifático, ou seja, engloba todos os aminoácidos que apresentem uma
cadeia lateral alifática contendo apenas grupos funcionais não ionizáveis.
Estes aminoácidos podem, por isso, estabelecer forças não covalentes polares
entre as suas cadeias laterais. Em particular, a maior parte estabelece pontes
de hidrogénio, um fator muito importante para a estabilidade da conformação da
maioria das proteínas.
São vários os aminoácidos que pertencem a esta categoria:
Serina – Este aminoácido
tem uma cadeia lateral pequena, com um grupo hidroxilo, que lhe confere
polaridade. Em condições normais o grupo hidroxilo é não ionizável, ainda que
nalguns contextos (em particular na tirosina, que é um aminoácido aromático,
tal como detalhado neste post),
possa funcionar como um ácido fraco. Todos os aminoácidos que apresentam grupos
hidroxilo na cadeia lateral, são potencialmente locais de fosforilação, ou
seja, quando uma proteína é fosforilada, os grupos fosfato são normalmente
adicionados aos grupos hidroxilo de cadeias laterais.
Treonina – Este
aminoácido, tal como a serina, apresenta um grupo hidroxilo na sua cadeia
lateral, mas neste caso essa cadeia é maior.
Cisteína – Este aminoácido
merece uma atenção especial, pois é o único dos 20 aminoácidos standard que
apresenta um grupo sulfidrilo ou tiol (mais informações sobre este grupo funcionalaqui).
Além de conferir polaridade, este grupo funcional permite o estabelecimento de
pontes dissulfureto, que são o principal tipo de ligações covalentes inter- e
intramoleculares que contribuem para a estabilidade da estrutura 3D de uma
proteína. Num post futuro irei falar sobre a estrutura das proteínas, e as
interações que contribuem para a sua estabilidade.
Prolina – Outro aminoácido
“especial”! É o único dos 20 aminoácidos standard no qual o grupo R se encontra
ligado covalentemente ao grupo a-amino,
ou seja, a cadeia lateral forma uma estrutura cíclica com o próprio esqueleto
do aminoácido. A inclusão deste aminoácido no grupo dos aminoácidos com cadeias
laterais polares alifáticas não carregadas é discutível, pois há quem o coloque
no grupo dos aminoácidos com cadeias laterais apolares alifáticas. Se olharmos
com atenção, a cadeia lateral da prolina é formada apenas por carbonos e
hidrogénios, ou seja, é apolar. No entanto, como se encontra ligada
covalentemente ao azoto do grupo a-amino,
este vai conferir polaridade a essa estrutura. Portanto, na minha opinião,
qualquer umas das classificações pode ser utilizada, depende da perspetiva. :) Voltando à estrutura
cíclica da prolina, o facto de englobar o esqueleto do aminoácido, faz com que
este seja um aminoácido mais rígido do que os restantes, pois a sua cadeia
lateral não pode sofrer rotação livre. Além disso, a estrutura cíclica distorce
a estrutura do aminoácido. Como eu costumo dizer nas minhas aulas, a prolina “é
um aminoácido torto”, e isto tem implicações significativas no efeito 3D da
prolina na estrutura das proteínas.
Asparagina – Este
aminoácido apresenta na sua cadeia lateral um grupo amida. É, na realidade, em
termos de composição um aminoácido muito semelhante ao aspartato, só muda o
grupo funcional terminal. Já agora… uma chamada de atenção! O grupo amida não é
um grupo ionizável, ou seja, não confere caráter básico (nem ácido!) às
biomoléculas. O grupo funcional básico é o grupo amina.
Glutamina – Tal como
a asparagina, a glutamina também tem um grupo amida na cadeia lateral. Neste
caso, existem semelhanças óbvias com o glutamato, ainda que haja uma diferença
evidente, que é o tal grupo amida.
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