Conforme já referi aqui no blog, num post
anterior (neste post),
os aminoácidos standard diferem entre si na composição química das suas cadeias
laterais. É possível agrupar os 20 aminoácidos em 5 conjuntos, de acordo com as
propriedades físico-químicas da cadeia lateral, em particular, de acordo com a
sua polaridade. Antes de começar a falar um pouco sobre esta divisão, queria já
referir que se trata de uma divisão que envolve algumas ambiguidades, que irei
destacar à medida que forem aparecendo nos posts que vou dedicar a este
assunto.
Vou começar por falar sobre os aminoácidos com
cadeia lateral apolar alifática. Antes de mais, convém explicar o que significa
apolar e alifática. Apolar significa que não possui assimetrias significativas
na distribuição dos eletrões sobre os átomos. Dito de uma forma mais simples,
uma molécula (ou uma cadeia) é apolar se tiver átomos com eletronegatividades
semelhantes. Tal como referi num post anterior (neste post),
se uma molécula for composta apenas por carbonos e hidrogénios, é considerada
apolar. Da mesma forma, se uma cadeia lateral de um aminoácido for composta
apenas por carbonos e hidrogénios, é considerada apolar. Em relação ao conceito
“alifática”, este diz respeito à ausência de anéis aromáticos, que são anéis
derivados do benzeno; portanto, são estruturas cíclicas com 6 vértices, todos
eles correspondendo a átomos de carbono, e com 3 ligações duplas no seu
interior (na realidade não dão 3 ligações duplas, mas sim 6 ligações com ordem
de ligação 1,5, mas para não complicar as coisas podem considerar as 3 ligações
duplas). Portanto, todos os aminoácidos que possuam na sua cadeia lateral
apenas átomos de carbono e hidrogénio e que não apresentem nenhum anel
aromático, pertencem à categoria de aminoácidos com cadeias laterais apolares
alifáticas. São eles:
Glicina – é o aminoácido mais simples, com uma
cadeia lateral formada apenas por um átomo de hidrogénio. Como o átomo de
hidrogénio é demasiado pequeno para ter um papel importante na interação com
outras cadeias laterais de aminoácidos, e não apresentam por si só um
comportamento polar (ou apolar) significativo, este aminoácido aparece nesta
categoria por exclusão de partes, ou seja, porque nas restantes categorias não
fazia sentido incluí-lo. A glicina tem a particularidade de ser o único aminoácido
standard que não apresenta estereoisómeros, pois o seu carbono a não é quiral, porque não está ligado a 4
substituintes diferentes.
Alanina – a sua cadeia lateral é um grupo metilo
(-CH3), que encaixa perfeitamente na definição de cadeia lateral apolar
alifática.
Valina, leucina e isoleucina – as suas cadeias
laterais são mais complexas do que a da alanina, mas são exclusivamente
compostas por átomos de carbono e de hidrogénio.
Metionina – mais um aminoácido que aparece neste
grupo um pouco por exclusão de partes. Apesar de ter um átomo de enxofre, como
se encontra numa posição interna da cadeia (é um grupo tioéter), não afeta
significativamente a polaridade da mesma.
Todos os aminoácidos deste grupo vão ter
tendência a estabelecer forças de dispersão de London (as chamadas “interações
hidrofóbicas”) com aminoácidos vizinhos, pelo que, numa estrutura 3D de uma
proteína, eles tendem a aparecer na proximidade uns dos outros.
Queria só terminar com uma ideia que muitas vezes
é dita de forma errada. Os aminoácidos apresentados neste post não são
aminoácidos apolares, são aminoácidos com cadeias laterais apolares. Nenhum
aminoácido é apolar, pois possuem dois grupos muito polares (amina e
carboxílico) ligados ao carbono a.
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