Conforme referi num dos meus últimos posts, o
citocromo c é uma proteína pequena, indispensável para a cadeia respiratória
mitocondrial, pois funciona como um transportador de eletrões entre o complexo
III e o complexo IV. Além desta função muito importante, o citocromo c é também
um importante ativador da morte celular programada, ou apoptose; mais
concretamente, é um ativador da via intrínseca da apoptose. Devido a este papel
duplo, o citocromo c é muitas vezes classificado como “uma molécula central
para a vida no nosso mundo de oxigénio, e, simultaneamente, uma chave que abre
a porta para a morte”.
Apesar de a apoptose ser uma forma de morte
celular, trata-se de um mecanismo fundamental para a homeostasia do nosso
organismo. De facto, quando uma célula acumula danos irreparáveis (no DNA ou
noutra biomolécula), quando é colocada num contexto no qual pode ser
potencialmente prejudicial para as restantes células (escassez de nutrientes,
destacamento das células vizinhas, privação de fatores de crescimento, infeção,
leucócitos autorreativos, etc), ou quando está a mais no organismo (seleção
natural de neurónios, por exemplo) tende a cometer suicídio – apoptose. Esta
ideia óbvia, mas simultaneamente estranha, sugere algo que eu refiro muitas
vezes nas minhas aulas, que é o facto de os seres multicelulares deverem ser
considerados não como um ser vivo formado por muitas células, mas sim, como um
ser comunitário, onde cada célula tem o seu papel, e vive em comunidade com as
restantes.
A apoptose é um processo muito complexo, que
envolve muitos mediadores diferentes e que, em última instância, leva à
ativação de enzimas que promovem a auto-digestão celular. As caspases são uma
classe de proteases que desempenha um papel fundamental na resposta apoptótica.
Globalmente, estão definidos dois mecanismos de ativação da apoptose: a via
intrínseca e a via extrínseca. A via intrínseca é também por vezes designada
por via iniciada pelo citocromo c, pois esta proteína vai ser a protagonista no
início da resposta apoptótica. São vários os estímulos que podem levar a
libertação do citocromo c do espaço intermembranar para o citosol. Quando isso
acontece, inicia-se a ativação das caspases. Em condições normais o citocromo c
não abandona o espaço intermembranar, pois interatua com um glicerofosfolípido
existente na membrana mitocondrial interna, a cardiolipina. A elevada densidade
de cargas negativas deste fosfolípido atrai electrostaticamente as cargas positivas
do citocromo c. Além disso, uma cauda hidrofóbica do lípido insere-se numa
cavidade hidrofóbica da proteína, potenciando a interação entre ambas as
moléculas. São os danos provocados na cardiolipina que podem fazer com que
estas interações sejam destruídas, e o citocromo c libertado.
Uma vez no citosol, o citocromo c promove a
libertação de cálcio armazenado no retículo endoplasmático, elevando a
concentração do ião no citosol. Uma das funções do cálcio é a estimulação da
libertação de mais citocromo c para o citosol, ocorrendo assim um loop de
feedback positivo. Outra das consequências da presença de citocromo c no
citosol é a ativação da caspase 9, que por sua vez ativa as caspases 3 e 7, e o
destino da célula fica traçado – morrer por apoptose!
querido temos que rever essa ortografia não é mesmo
ResponderEliminar???????
EliminarExcelente matéria. Não dê ouvidos para quem não sabe nem colocar uma vírgula, mas quer criticar a ortografia dos outros.
EliminarFicou ótimo! Ajudou bastante. Obrigado!
Excelente assunto. Tenho uma dúvida. Os citocromos presentes na mitocôndria são produzidos por informações presentes no DNA celular ou no DNA mitocondrial.
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