Este blogue tem como objectivo divulgar conceitos, informações, músicas, vídeos, jogos, cartoons, curiosidades, sobre temas relacionados com a bioquímica. Porque a Bioquímica não tem que ser incompreensível...
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sábado, 11 de abril de 2015
Respiração celular (rendimento global)
Este é um assunto que normalmente gera alguma confusão
quando eu o abordo nas aulas. O motivo é muito simples… muitos dos meus alunos
aprenderam que quando uma molécula de NADH cede os eletrões à cadeia
respiratória mitocondrial, formam-se 3 ATP, e quando é o FADH2 o dador de
eletrões, são produzidos 2 ATP. Quando eu nas minhas aulas digo que na
realidade são 2,5 ATP produzidos quando o dador de eletrões é o NADH, e 1,5
quando é o FADH2, são muitos os que fazem uma cara de intrigados. Já agora,
deixem-me só fazer uma correção a algo que é muito frequente eu ouvir. Não se
deve dizer que o NADH é convertido em 2,5 ATP, mas sim que leva à produção de
2,5 ATP, pois o NADH não é gasto no processo, apenas cede 2 eletrões. Mas
voltando ao rendimento energético… outra coisa que costuma causar confusão
quando eu digo que se produzem 2,5 ATP, é o facto de estar a falar de “meio
ATP”. Mas afinal como é que se produz “meio ATP”? E o que significa do ponto de
vista químico “meio ATP”? Na realidade é uma ideia estranha e confusa mas a
justificação é muito simples. Como é lógico, não e produz “meio ATP”, o que se
passa é que a energia libertada durante o transporte dos eletrões ao longo da
cadeia respiratória mitocondrial é suficiente para se produzir 2,5 ou 1,5 ATP
(consoante o dador dos eletrões é o NADH ou o FADH2, respetivamente). Como o
processo ocorre continuamente, o somatório da energia libertada por cada 2
dadores de eletrões é suficiente para garantir 1 ATP em conjunto.
Mas voltando à quantidade total de ATP, como é que se chega
ao valor de 2,5 ou 1,5 ATP, e porque é que o 3 e 2 ATP que muitos aprendem está
errado? Recapitulando o funcionamento da cadeia respiratória mitocondrial,
quando é o NADH o dador de eletrões, ele cede 2 eletrões ao complexo I, que
bombeia 4 protões para o espaço intermembranar. Os eletrões passam para o
complexo II, que bombeia mais 4 protões para o espeço intermembranar. Depois
atravessam o complexo IV até chegarem ao O2, levando ao bombeamento de mais 2
protões para o espaço intermembranar, o que perfaz um total de 10 protões
bombeados para o espaço intermembranar por cada NADH que cede os eletrões à
cadeia respiratória. Se o dador de eletrões for o FADH2, estes são cedidos ao
complexo II, que não bombeia protões. Seguidamente passam para o complexo III,
que bombeia 4 protões para o espaço intermembranar, e, finalmente, para o
complexo IV, que bombeia mais 2 protões, ou seja, no total são bombeados 6
protões. De acordo com a teoria quimiosmótica, os protões vão regressar à
matriz, a favor do gradiente de concentração, libertando energia. Foi
demonstrado experimentalmente que por cada 4 protões que regressam a matriz, é
libertada energia suficiente para se produzir uma molécula de ATP. Sendo assim,
quando o dador dos eletrões é o NADH, são produzidas 10/4 = 2,5 moléculas de
ATP, e quando é o FADH2, produzem-se 6/4 = 1,5 ATP!